Oi turminha bonita! Trago aqui pra vocês uma continuação deste post, em que explico como você pode parecer super inteligente sem ter realmente um QI avantajado ou sequer o ensino médio completo. Por mais que você mal saiba desenhar o próprio nome no RG, basta aprender sobre esses fenômenos interessantes e puxa-los do bolso quando a situação for relevante e seu status de “homem letrado” estará estabelecido.
Mas olha lá, ein! A linha que separa “um cara inteligente, culto, que manjas as paradas que ninguém mais sabe” de “lá vem aquele maluco chato tentando se passar por inteligente recitando um artigo da wikipédia” é muito tênue! Ou é tênua? Eu sei que tênia é solitária, mas o resto eu não lembro mais. Enfim.
A questão é que assim como álcool e o sutil hábito de dar em cima das amigas da sua namorada, a dica que estou dando deve ser usada com moderação. Não exagere e tudo ficará de boa. Se liga nisso:
Dilema da Centopéia
Manja a brincadeira internética de dizer prum chegado “VOCÊ ES’TA RESPIRANDO MANUALMENTE AGORA”? E o seu broder entra na agonia, porque no momento em que lê esse comando, é como se o processo automático que rege o movimento do seu diafragma levasse um Ctrl Alt Del e o cara tem agora que fazer um exercício consciente pra continuar respirando? Só de digitar essa explicação essa porra aconteceu comigo.
Existe um nome pra isso. Este efeito/sacanagem chama-se Dilema da Centopéia e, como qualquer teorema científico de renome e valor acadêmico, tem origem num poeminha infantil:
A centipede was happy – quite!
Until a toad in fun
Said, “Pray, which leg moves after which?”
This raised her doubts to such a pitch,
She fell exhausted in the ditch
Not knowing how to run.
Caso você não fale inglês, a historinha é a seguinte: tava lá a centopéia feliz na dela. Chega uma rã e diz na pura e sinistra sacanagem (“Until a toad in fun said…”) “ô, mas como tu coordena essas perna tudo aí mano?”
E esta simples pergunta feita na zoeira maliciosa tornou a centopéia tão confusa que ela não conseguia mais andar. É a versão fábula de quando um broder diz no Twitter que você está agora piscando manualmente — e, bizarramente, há um nome específico pra esse fenômeno!
O efeito Tetris
Esse aqui eu nem preciso explicar. Você já jogou um jogo com tanta frequência que as imagens do jogo começaram a se manifestar psicologicamente pra você?
Nem precisa ser especificamente um jogo. Veja este exemplo: Eu passei um verão trabalhando como vendedor de picolés em 2005. Pra atrair a atenção da gurizada futuramente diabética, eu balançava uns sininhos acoplados à bicicreta dos picolés. Que era parecida com isto aqui:
Aliás, já que estou almejando a fidelidade da parada, que tal uma foto do meu ex-chefe dessa parada com uma das bicicletas?

Poisé, Kibom não é uma marca brasileira. Ela só tem esse nome no Brasil, aqui fora ela se chama “Good Humor”
Este é Joe, um dos douchebags que era dono da Frosty Freeze em Oshawa, onde eu morava. O sócio dele, um cara cujo nome não lembro mas cuja filha da putice ultrapassa todos os limites humanos, rompeu a parceria e pode ser encontrado aqui tentando passar as bicicletas dele pra frente e prometendo, com ares de distribuidor da Herbalife, que é o melhor negócio DO MUNDO.
A propósito, este ponto do anúncio é particularmente filho da puta:
“An average cart will sell $200-$300/day (…) with well trained individuals in good areas selling upwards of $400-$500”
O melhor vendedor da “empresa”, um velhinho de nome “Arthur” que todos pensávamos ser ao menos parcialmente retardado, fazia 200 dólares por dia — esse era o benchmark de um bom vendedor da parada, 200 dólares por dia.
E lembrando que eles pagavam uma comissão de apenas 25% das vendas, ou seja — o melhor vendedor da parada ganhava 50 dólares por dia, trampando 10 horas por dia. E esse maluco tá tentando vender a parada fazendo parecer um investimento único. Entendeu por que odeio esses caras?
O mais engraçado é que encontrei esta troca de emails entre o Joe e um político de Oshawa em que ele revela que o negócio é falido. A propósito, se lig no site deles que mal funciona!
Enfim. Meu ponto é que depois do meu PRIMEIRO dia vendendo sorvete e ouvindo aqueles sinos por 10 horas consecutivas, fui dormir e acordava de 10 em 10 minutos ouvindo os sinos, como se a porra da bicicleta estivesse do meu lado na cama. Foi uma maluquice lisérgica inacreditável.
E isso é o efeito Tetris. O nome ilustra a maluquice de alguém que, por joga Tetris por inúmeras horas sem parar, olha pro ambiente ao seu redor e fica imaginando onde encaixaria as pecinhas que caem do céu. A propósito, as pecinhas de Tetris se chamam tetraminos.
Saturação semântica
Repita a palavra ARMÁRIO exatamente dez vezes aí.
Agora repita ARMÁRIO outras dez vezes, por favor. Deixe de ser preguiçoso porra, faça a experiência. É pela ciência.
Como você já deve ter percebido, repetir uma palavra inúmeras vezes faz com que ela perca o sentido e soe como um monte de sílabas desconexas. O que você talvez não sabia é que este fenômeno é conhecido pela neurociência: chama-se saturação (ou saciação) semântica.
Essencialmente, ao repetir uma palavra muitas vezes, tu tá um BUG no software de reconhecimento de significados que o seu cérebro roda. E sem esse aplicativo rodando no background, palavras tornam-se sons ininteligíveis.
Pronto. Vá e não peque mais e impressione todos os seus amigos.

Dicas para parecer inteligente no bar, só o HBDia/Quide hahaha
Cara, sobre saturação semântica tem uma palavra que pra mim não passa de uma onomatopeia: pé.
Qualquer outra palavra monossilábica faz mais sentido.
Deu lag na minha cabeça na parte do “armário”.
só quero postar frist mesmo.
frist??? Essa nem chega a perder o sentido, porque não tem nenhum hehehe…
Olha que ótimo, dessa vez nem vou precisar da Wikipédia rsrsrs. Muito bom texto, Izzy 😀
Dilema da centopéia melhor dilema.
Acontecia comigo o efeito tetris direto depois de zerar Portal 2 duas vezes seguidas… eu via em toda superficie branca um chance de abrir um portal rsrs
Izzy, trazendo felicidade para a sua roda de amigos há mais de uma década com sua cultura.
Kibon é uma marca brasileira-argentina, mas como foi adquirida pela Unilever, é vendida em vários países e com vários nomes diferentes. Aprendi na Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Kibon e http://en.wikipedia.org/wiki/Kibon 😀
Olha só, estava pensando hoje mesmo naquele post anterior, conclui que precisaria procurá-lo, porque queria muito saber o nome do efeito baader-meinhof, e aí você cita ele hoje, o que é ótimo, mas prova mais uma vez o quanto é real.
Em Portugal, a Kibom se chama “Olá”.
Quanto aos bits de conhecimento, eu consigo sempre olhares de admiração, respeito e deferência quando explico o que é Sequestro de Amígdala. Neurociência é foda.
Ah, pesquisando pelo dilema da centopeia, não encontrei bons resultados em português. Sabem se existe um outro nome? Em inglês sim, encontrei bastante coisas por “Centipede’s dilemma”.
Em Portugal kibom é “olá”
Muito bom izzy, a melhor parte do texto foi descobrir que toad significa sapo e que a kibom tem outro nome no exterior Hueahueah
Vlw Izzy!
O efeito tetris já aconteceu tantas vezes comigo…(até com o próprio tetris). Por exemplo, como essa semana estou jogando de maneira retardada Assassin’s Creed: Brotherhood, fico imaginando onde poderia escalar.
É legal aprender que as nossas esquisitices tem nomes até interessantes.
Agora, uma curiosidade: tu pesquisas essas coisas, Izzy Nobre? Tipo, passa uma situação dessa e sai fuçando até descobrir se isso tem nome? =)
Pô, sempre fiquei pensando nessa Saturação semântica, só não sabia o nome haha
Saturação Semântica, agora ficou bem mais facíl de explicar porque eu fico com cara de bunda repetindo uma palavra e falando que ela perdeu o sentido mas depois volta! sabia que eu não era maluco! XD
Eu conheço o efeito tetris como o efeito guitar hero
Esse efeito tetris acontece muito comigo, sou viciada nesse joguinho e apos ficar horas jogando, quando eu vou ver um filme legendado meu cérebro “jogar tetris” com a legenda.
Efeito tetris acontece comigo direto, e eu acabo nunca mais jogando os jogos. Peggle e Bookworm são especialmente eficazes nisso, além de qlqr joguinho tipo tetris, obviamente.
Eu sofro o efeito Tetris de forma um tanto quanto retardada:Quanto vejo um seriado ou desenho por muito tempo e depois vou ver outro programa,eu associo os personagens de um mundo no outro.Ex:Eu vejo Dragon Ball Z e quando vou ver Avatar logo depois,fico esperando o Aang soltar Kamehameha invés de soltar os ventinhos dele.
Sempre brinquei de saturação semântica com a palavra “orelha” quando era criança. É muito engraçado, vai de “orelhaorelha” pra “relhorelho” rapidinho…
E eu percebo a mesma coisa com sons. Tipo, quando escuto o mesmo som seguido, ele se mistura consigo mesmo e vira outro som :O
E o Dilema da Centopéia sempre acontece comigo quando tento aprender passos de dança.
Saturação Semântica: fiquem repetindo “capi” ou “capa” aí kkkkkkk.
A saturaçao semântica pode anular o efeito centopéia e vice-versa (fiz o teste), a parada do tetris acontecia comigo quando era criança jogando snake, so que nao lembro como fiz pra parar.
Continue com esse post izzy
de tanto ler manuais e livros em pdf/doc antigamente, eu acabava procurando o campo “search” em livros reais (de papel)… depois de um nanosegundo notava o retardamento mental de tal tentativa…
Que texto maluco Izzy, sua professora estava certa; até me perdi sobre o que era.
Só eu vi umas peças de Tetris desenhadas na primeira foto de carrinho de picolé??
Sempre fui fascinado por saturação (ou saciação) semântica, mas sem saber que era isso, que foda, e digo mais fazer isso é engraçado e pode se tornar algo a mais do que já. Muito bom Izzy obrigado!
Essa da saturação semântica eu não senti na experiência do armário porque não tava prestando atenção suficiente à palavra enquanto a repetia. Mas já tinha notado o fenômeno ao ver no computador uma mesma palavra em várias fontes diferentes, tentando decidir qual é a melhor!
Não consigo respirar, rsrsrs…
Acho que eu vi um videozinho de ti vendendo picolés pra uns guris. Lol. Muito útil esse texto 🙂
Izzy maldito, agora eu não sei mais respirar nem piscar os olhos!